Autismo Tardio e Dupla Excepcionalidade: A Voz de Cecília Ramos

O número de pessoas autistas e atípicas tem crescido significativamente, com o Brasil registrando 2.4 milhões de autistas no último censo. No entanto, muitas informações sobre o autismo ainda são imprecisas ou inadequadas. O podcast “Dose de Atipicidade”, apresentado por Carla de Castro, busca preencher essa lacuna, oferecendo informações de qualidade sobre autismo e neurodiversidade.

Nesta edição especial, Carla recebe Cecília Ramos, uma mulher atípica com diagnóstico tardio de dupla excepcionalidade. Cecília compartilha sua experiência de vida, desde os desafios na infância e na escola até a complexidade da vida profissional e pessoal. Sua história oferece uma perspectiva valiosa para mulheres que enfrentam desafios semelhantes e para todos que desejam entender melhor o autismo.

O Diagnóstico Tardio e a Dupla Excepcionalidade

Cecília Ramos foi diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e altas habilidades aos 36 anos. Embora as altas habilidades fossem reconhecidas desde a infância, o autismo permaneceu invisível por muitos anos. A dupla excepcionalidade, nesse caso, significa a coexistência de altas habilidades intelectuais com desafios associados ao autismo e ao TDAH.

Dentro de casa, as altas habilidades de Cecília e seu irmão eram evidentes. Cecília, inclusive, foi adiantada um ano na escola. No entanto, à medida que Cecília avançava para a vida adulta, as dificuldades se tornavam mais evidentes. A busca por respostas a levou a um diagnóstico de TDAH, impulsionado pela crescente divulgação do transtorno nas redes sociais.

Burnout e a Busca por Autoconhecimento

Em 2020, Cecília enfrentou um burnout, um esgotamento físico e mental que a impediu de realizar suas atividades diárias. Na época, a falta de informação sobre o burnout dificultou a compreensão e o tratamento adequado. Mesmo após um breve período de descanso, Cecília retornou ao mesmo ciclo de atividades ininterruptas, sem abordar as causas subjacentes do problema.

Apesar de buscar terapia, Cecília sentia que era incentivada a manter um ritmo de produtividade excessivo. Foi somente após o diagnóstico de TEA, TDAH e altas habilidades que ela começou a entender a origem de suas dificuldades e a importância de se tratar com mais cuidado e gentileza. A jornada de autoconhecimento permitiu que Cecília tirasse o “chicote das costas” e priorizasse seu bem-estar.

Os Desafios do Autismo no Brasil

Cecília destaca que ter um diagnóstico de autismo no Brasil é desafiador, devido ao estigma, preconceito e capacitismo presentes na sociedade. Embora o diagnóstico possa trazer alívio e autoconhecimento, ele também pode gerar novos obstáculos, especialmente no ambiente de trabalho e nas relações interpessoais. A luta por adaptações e reconhecimento é constante.

A experiência de Cecília ressalta a importância de discutir a vulnerabilidade das mulheres autistas a abusos e violências. Apesar de sua capacidade de ler cenários e situações, Cecília relata dificuldades em aplicar essa habilidade a si mesma. A falta de informação e o mascaramento do autismo podem levar a situações de exploração e sofrimento.

O Ambiente e a Importância do Acolhimento

Cecília enfatiza o papel crucial do ambiente no bem-estar de pessoas autistas. Um ambiente acolhedor, colaborativo e amoroso pode facilitar a adaptação e o desenvolvimento de habilidades. Por outro lado, um ambiente competitivo, negativo e desumano pode exacerbar os desafios e o sofrimento. A natureza, com sua simplicidade e complexidade, tem sido uma fonte de aterramento e equilíbrio para Cecília.

A questão da seletividade alimentar também é abordada, destacando como o ambiente familiar influencia os hábitos alimentares. Cecília relata que, após o diagnóstico, começou a questionar suas preferências alimentares, percebendo que alguns alimentos eram consumidos por hábito, e não por prazer. O autoconhecimento permitiu que ela fizesse escolhas mais conscientes e alinhadas com suas necessidades.

Principais Conclusões

  • O diagnóstico tardio de autismo e dupla excepcionalidade pode trazer alívio e autoconhecimento, mas também gerar novos desafios.
  • O capacitismo e a invalidação do diagnóstico são obstáculos significativos para pessoas autistas.
  • O ambiente desempenha um papel crucial no bem-estar e na adaptação de pessoas autistas.
  • Mulheres autistas são mais vulneráveis a abusos e violências, devido ao mascaramento e à dificuldade em reconhecer situações de exploração.
  • A espiritualidade e o contato com a natureza podem ser fontes de apoio e equilíbrio para pessoas autistas.
  • A conscientização e a informação são fundamentais para promover a inclusão e diminuir o capacitismo.

Conclusão

A história de Cecília Ramos é um testemunho da resiliência e da busca por autoconhecimento. Seu relato nos convida a refletir sobre a importância da inclusão, do acolhimento e da conscientização sobre o autismo. Que possamos construir uma sociedade mais justa e equitativa, onde todas as pessoas, independentemente de suas diferenças, possam viver com dignidade e bem-estar. Compartilhe essa história e ajude a disseminar a informação!

Este artigo é baseado no vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=IkM7nEPIg28

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Olá, meu nome é
Carla de Castro

Sou nutricionista especializada em Saúde Mental e Transtornos do Neurodesenvolvimento, e dedico minha trajetória a transformar o cuidado com famílias atípicas. Sou pioneira no Brasil na abordagem nutricional voltada ao autismo e criei o podcast Doses de Atipicidade para ampliar esse diálogo com empatia e ciência. À frente da Clínica Sallva, acolho cada história com escuta ativa e desenvolvo estratégias nutricionais personalizadas que promovem equilíbrio, autonomia e qualidade de vida.