Autismo: Qualidade vs. Quantidade na Terapia?
O número de diagnósticos de autismo no Brasil tem crescido, com dados recentes do censo indicando uma prevalência de 1 para cada 38 crianças. Diante desse cenário, a busca por informações de qualidade e abordagens terapêuticas eficazes se torna crucial. Mas, em meio a tantas opções, surge uma questão fundamental: a quantidade de horas de terapia é mais importante do que a qualidade?
Carla de Castro, nutricionista e criadora do podcast Dose de Atipicidade, explora esse tema em um bate-papo esclarecedor com Hélida Maia, fonoaudióloga intensivista e especialista em linguagem. Juntas, elas desmistificam a ideia de que mais horas de terapia são sinônimo de melhores resultados, enfatizando a importância de um plano terapêutico individualizado e da atuação de uma equipe multidisciplinar.
A Importância da Individualização no Tratamento do Autismo
Hélida Maia ressalta que nem todo paciente precisa de todas as terapias, e muito menos de uma carga horária excessiva. Prescrições de 20 ou 30 horas semanais devem ser revistas e ponderadas, levando em consideração as necessidades específicas de cada indivíduo e a dinâmica familiar. A sobrecarga de terapias pode gerar frustração e até mesmo ser contraproducente.
A fonoaudióloga compartilha um caso emblemático de uma criança diagnosticada com autismo e submetida a 20 horas semanais de estimulação fechada. Após uma avaliação mais aprofundada, Hélida identificou crises de ausência, que levaram a um diagnóstico de epilepsia. Com a medicação adequada, a criança se recuperou completamente, demonstrando que o diagnóstico inicial estava equivocado.
O Perigo dos Diagnósticos Precipitados
Esse caso ilustra a importância de uma avaliação cuidadosa e multidisciplinar, evitando diagnósticos precipitados e intervenções desnecessárias. É fundamental que os profissionais da área da saúde confiem em suas equipes e busquem a colaboração de diferentes especialistas para chegar a um diagnóstico preciso e um plano de tratamento eficaz.
O Papel da Equipe Multidisciplinar no Tratamento do Autismo
Carla de Castro enfatiza que o tratamento de pessoas atípicas não pode ser feito de forma isolada. A nutrição, por exemplo, é fundamental para tratar as fragilidades gastrointestinais frequentemente presentes em pacientes com transtornos do neurodesenvolvimento. No entanto, a nutrição não faz milagres e precisa da colaboração de outros profissionais, como fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, neuropsicólogos e neuropediatras.
A clínica Integrar, onde Hélida Maia atua, é um exemplo de abordagem multidisciplinar, reunindo diversas especialidades para atender às necessidades dos pacientes de forma integral. A clínica oferece serviços de fonoaudiologia, fisioterapia, psicologia, terapia ocupacional, nutrição, psicopedagogia, pediatria e psiquiatria.
Seletividade Alimentar: Um Desafio Multifatorial
A seletividade alimentar é uma comorbidade comum em crianças com autismo, mas também pode afetar crianças típicas e adultos. O tratamento da seletividade alimentar exige uma abordagem multidisciplinar, envolvendo nutricionistas, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos. É importante identificar as causas da seletividade, que podem incluir alergias alimentares, dores orgânicas, hipersensibilidade e experiências negativas.
Ética e Responsabilidade no Tratamento do Autismo
Hélida Maia destaca a importância da ética e da responsabilidade no tratamento do autismo. Nem todo paciente precisa de todas as terapias, e nem sempre mais horas de terapia são sinônimo de melhores resultados. É fundamental individualizar o plano de tratamento, levando em consideração as necessidades específicas de cada paciente e a dinâmica familiar.
A fonoaudióloga alerta para o perigo de profissionais que se autodenominam especialistas em autismo sem ter a formação e a experiência necessárias. É fundamental que os pais e familiares busquem profissionais qualificados e experientes, que tenham uma visão abrangente do neurodesenvolvimento e que trabalhem em colaboração com outros especialistas.
Principais Conclusões
- A qualidade da terapia é mais importante do que a quantidade de horas.
- O tratamento do autismo deve ser individualizado e levar em consideração as necessidades específicas de cada paciente.
- A equipe multidisciplinar é fundamental para um tratamento eficaz.
- Diagnósticos precipitados e intervenções desnecessárias devem ser evitados.
- Ética e responsabilidade são valores essenciais no tratamento do autismo.
Conclusão
Em um cenário com crescente número de diagnósticos de autismo, a busca por informações de qualidade e abordagens terapêuticas eficazes se torna ainda mais importante. Ao priorizar a qualidade sobre a quantidade, individualizar o tratamento e contar com uma equipe multidisciplinar, é possível oferecer às pessoas com autismo as melhores oportunidades para desenvolver seu potencial e alcançar uma vida plena e feliz. Qual o primeiro passo que você pode dar hoje para garantir um tratamento mais eficaz para seu filho ou paciente?
Este artigo é baseado no vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=KoIihHTmKVs



