No universo da neurodiversidade, a nutrição emerge como uma ferramenta poderosa para transformar a vida de pessoas no espectro autista. Em um episódio especial do podcast “Doses de Atipicidade,” a nutricionista Carla de Castro, especialista na área, celebrou um ano de informação e acolhimento, recebendo a nutricionista Gabriele Corrêa, especialista em Autismo, TDAH e T21, para uma conversa reveladora sobre a prática clínica e os resultados reais da intervenção nutricional no autismo.
Com um cenário renovado e transmitido ao vivo pelo YouTube, o podcast reafirmou seu compromisso de trazer informação de qualidade sobre autismo e neurodiversidade. Carla de Castro, com mais de 20 anos de experiência, destacou a crescente prevalência do autismo no Brasil e no mundo, enfatizando a importância de compartilhar conhecimento para famílias atípicas e profissionais da área.
A convidada, Gabriele Corrêa, compartilhou sua expertise em nutrição funcional aplicada aos transtornos do neurodesenvolvimento, ressaltando a importância de uma escuta sensível e abordagem individualizada para construir planos alimentares que respeitem a realidade de cada família. Acompanhe os principais pontos dessa conversa enriquecedora.
A Nutrição como Intervenção no Autismo: Uma Abordagem Essencial
A conversa entre Carla e Gabi girou em torno da importância da nutrição como uma intervenção fundamental no autismo. Gabi enfatizou que a nutrição não é apenas um complemento, mas sim uma base para o tratamento, atuando em diversas questões metabólicas presentes no autismo.
“No autismo, existem várias questões metabólicas que a gente precisa intervir. Então a gente tem excesso de citocinas inflamatórias, questões gastrointestinais, como problemas de microbiota, a própria questão da seletividade, que impacta no desenvolvimento cognitivo geral, então é aí que a nutrição entra pro autista,” explicou Gabi.
A especialista destacou que o nutricionista especializado tem a capacidade de atuar em cada uma dessas questões, utilizando a alimentação, suplementação e estratégias comportamentais para promover a melhora do paciente. Carla complementou, ressaltando que o corpo humano é feito de nutrientes, e não é possível obter um bom desenvolvimento cognitivo a partir de alimentos não nutritivos.
Desmistificando a Nutrição no Autismo: Da Ciência à Prática Clínica
Um dos pontos cruciais abordados foi a desmistificação da nutrição no autismo, combatendo a ideia de que não há comprovação científica ou necessidade de intervenção nutricional. Gabi ressaltou que, nos últimos 10 anos, houve um aumento significativo de estudos sobre autismo, nutrição e processos metabólicos, evidenciando a importância da alimentação para a qualidade de vida dos pacientes atípicos.
“Hoje a gente entende o autismo não só como uma condição neuropsiquiátrica, mas a gente entende que existe toda uma mudança metabólica nesse processo, né? Fatores inflamatórios, mudanças de microbiota, distúrbios gastrointestinais e para isso a gente tem muita, muita pesquisa em cima,” afirmou Gabi.
Carla enfatizou que a prática clínica, aliada aos artigos científicos, permite uma abordagem segura e eficaz, desmistificando a ideia de que a exclusão de glúten e lácteo, por exemplo, pode ser prejudicial. A nutricionista ressaltou que testar e observar os resultados é fundamental para individualizar o tratamento.
Comorbidades e a Individualidade na Abordagem Nutricional
A conversa também abordou a importância de considerar as comorbidades associadas ao autismo, como TDAH, T21 e epilepsia, na hora de definir a abordagem nutricional. Gabi destacou que muitos pacientes autistas apresentam alterações intestinais, como disbiose e hiperpermeabilidade, que precisam ser tratadas com a alimentação.
“A gente tem os artigos afirmando aí que aproximadamente quatro vezes mais chance de uma pessoa autista ou neurodivergente ter alterações intestinais. Disbiose e hiperpermeabilidade, azia, refluxo, resto de comida nas fezes, esofagite. Como é que a gente vai tratar isso sem comida? E quem é o profissional que trata isso?” questionou Carla.
A individualidade na abordagem nutricional foi outro ponto crucial. Gabi ressaltou que não existe uma dieta para o autismo, mas sim uma abordagem individualizada, que considera as particularidades metabólicas, comportamentais e alimentares de cada paciente. “O que é pra um não é pra outro,” enfatizou Gabi, destacando a importância de entender que o autismo se manifesta de formas diferentes em cada indivíduo.
A Epilepsia e a Dieta Cetogênica: Uma Abordagem Delicada
A epilepsia, uma comorbidade comum no autismo, também foi tema de discussão. Gabi explicou que as medicações para tratar a epilepsia podem aumentar a demanda nutricional, exigindo um maior aporte de vitaminas do complexo B e zinco. Além disso, a dieta cetogênica, com baixo teor de carboidratos e alto teor de gordura, pode ser uma opção para controlar as crises em casos de epilepsia de difícil controle.
No entanto, Gabi alertou que a dieta cetogênica é complexa e exige um ajuste fino, além de apresentar efeitos colaterais. “É realmente uma dieta difícil que tem muitos efeitos colaterais, muitos efeitos gástricos, aumento de refluxo, desconforto abdominal e tal. Mas que, em alguns casos, controla muito bem as crises,” explicou Gabi.
Carla reforçou a importância do bom senso e da sensibilidade do nutricionista ao indicar a dieta cetogênica, ressaltando que não é um protocolo para sempre e que deve ser acompanhado de perto. “Na dúvida, não ultrapasse,” alertou Carla, enfatizando a importância de encaminhar o paciente para um especialista em casos complexos.
Principais Conclusões
- A nutrição é uma base fundamental para o tratamento do autismo, atuando em questões metabólicas, gastrointestinais e comportamentais.
- A abordagem nutricional deve ser individualizada, considerando as particularidades de cada paciente e as comorbidades associadas.
- A dieta cetogênica pode ser uma opção para controlar as crises de epilepsia de difícil controle, mas exige um acompanhamento cuidadoso.
- A nutrição transforma vidas, promovendo o desenvolvimento cognitivo, a melhora do comportamento e a qualidade de vida dos pacientes autistas.
- A parceria entre nutricionistas, famílias e outros profissionais da área é essencial para o sucesso do tratamento.
Conclusão
A conversa entre Carla de Castro e Gabriele Corrêa no podcast “Doses de Atipicidade” reforçou a importância da nutrição como uma ferramenta poderosa para transformar a vida de pessoas no espectro autista. Com informação de qualidade, casos reais e dicas práticas, as especialistas mostraram que a alimentação pode ser um caminho para promover o desenvolvimento, a saúde e o bem-estar de quem vive com autismo. Que tal começar a repensar a alimentação como um aliado no cuidado com o autismo?
Este artigo é baseado no vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=_uPpy31jg1M



