No ar mais um episódio do podcast Dose de Atipicidade, apresentado por Carla de Castro, nutricionista especializada em autismo e TDAH. Desta vez, o tema central é o autismo feminino, uma área que frequentemente fica à margem das discussões sobre Transtorno do Espectro Autista (TEA). O objetivo é trazer à tona a realidade das mulheres autistas, muitas vezes diagnosticadas tardiamente, e promover conscientização e inclusão.
Para enriquecer o debate, Carla recebe Amanda Paschoal, ativista, autista e arte-educadora, que compartilha sua história e perspectivas sobre o autismo feminino. Amanda, diagnosticada aos oito anos, oferece um olhar valioso sobre os desafios enfrentados pelas mulheres autistas e a importância do ativismo na luta por seus direitos. Este episódio busca iluminar as particularidades do autismo em mulheres, desmistificar preconceitos e fornecer informações relevantes para famílias e profissionais da área.
A Jornada de Amanda: Diagnóstico Precoce e Ativismo
Amanda Paschoal, com 34 anos, teve um diagnóstico precoce de autismo, algo incomum nos anos 90. Ela relata que, desde a infância, sua família percebia que ela era diferente. Sintomas como sensibilidade a sons altos, movimentos repetitivos e seletividade alimentar eram evidentes. No entanto, o diagnóstico só veio após a intervenção de uma professora de natação e a perspicácia de sua mãe, que cursava psicologia.
O diagnóstico precoce permitiu que Amanda tivesse acesso a suporte e adaptações necessárias ao longo de sua vida escolar. Ela destaca a importância da escola pública em seu processo de inclusão, contrariando a ideia de que apenas escolas particulares oferecem um ambiente adequado para pessoas com deficiência. Amanda se tornou ativista em 2014, focando em temas como o subdiagnóstico em mulheres e o combate à pseudociência no tratamento do autismo.
O Subdiagnóstico em Mulheres Autistas
Um dos principais pontos abordados no podcast é o subdiagnóstico de autismo em mulheres. Amanda explica que os critérios de diagnóstico foram historicamente baseados em observações de meninos, o que dificulta a identificação do TEA em meninas. Além disso, fatores culturais e sociais contribuem para que o autismo feminino seja menos percebido.
As mulheres autistas frequentemente desenvolvem estratégias de mascaramento social ou camuflagem social, aprendendo a imitar comportamentos típicos para se encaixarem em ambientes sociais. Isso pode levar a um diagnóstico tardio, muitas vezes na vida adulta, com prejuízos significativos para a saúde mental e o bem-estar. Muitas mulheres são diagnosticadas erroneamente com ansiedade, depressão ou outros transtornos antes de receberem o diagnóstico correto de autismo.
Inclusão Escolar e a Importância da Convivência
A inclusão escolar é um tema central na discussão. Amanda enfatiza que a convivência com pessoas com deficiência é fundamental para a normalização e a compreensão das diferenças. Escolas inclusivas proporcionam um ambiente onde tanto alunos típicos quanto atípicos podem aprender uns com os outros, desenvolvendo habilidades sociais e combatendo o preconceito.
Carla de Castro complementa, ressaltando que a escola é um local de aprendizagem integral, onde se desenvolvem habilidades sociais e se promove a inclusão. A falta de inclusão pode levar ao capacitismo e à estranheza diante do diferente. A educação inclusiva, portanto, é essencial para a formação de cidadãos conscientes e engajados.
O Ativismo e a Luta por Direitos
Amanda Paschoal compartilha sua experiência como ativista, destacando a importância de traduzir e disseminar informações sobre autismo, especialmente aquelas relacionadas a disfunção executiva e transtorno do processamento sensorial. Ela também luta contra o charlatanismo e a pseudociência, que podem prejudicar o tratamento de pessoas autistas.
A Abraça (Associação Brasileira das Ações pelos Direitos das Pessoas Autistas), da qual Amanda é membro, surgiu como resposta a denúncias de tratamentos inadequados e à falta de posicionamento de outras organizações. A Abraça prioriza o bem-estar do autista e promove campanhas de conscientização sobre temas como sexualidade e proteção contra terapias abusivas.
Principais Conclusões
- O autismo feminino é frequentemente subdiagnosticado devido a critérios de diagnóstico enviesados e ao mascaramento social.
- A inclusão escolar é fundamental para a normalização das diferenças e o desenvolvimento de habilidades sociais.
- O ativismo desempenha um papel crucial na luta por direitos e no combate à pseudociência.
- A cultura e o lazer são importantes para a inclusão social e o bem-estar de pessoas autistas.
- A legislação existente sobre inclusão precisa ser efetivamente aplicada e acompanhada de políticas públicas adequadas.
Conclusão
A discussão sobre autismo feminino é essencial para promover a conscientização, a inclusão e o respeito às diferenças. A história de Amanda Paschoal e suas reflexões sobre os desafios enfrentados pelas mulheres autistas nos convidam a repensar nossas percepções e a lutar por uma sociedade mais justa e acolhedora. Que este episódio do Dose de Atipicidade inspire a todos a se engajarem na causa e a promoverem a inclusão em todos os aspectos da vida.
Este artigo é baseado no vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=F1jqoJ746pc



